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sexta-feira, 31 de julho de 2015

Um pedaço de carne

Oi, eu sou um pedaço de carne!
Um pedaço de carne daqueles que anda pelas ruas da cidade e alguém comenta uma vontade, maldade, que beldade e eu me sinto assim como se fosse um pedaço de carne.
Eu invado whatsapp, aparece minha foto, da bunda, dos seios e nada da minha mentalidade, você diz que é linda, gostosa, mas de mim não sabe nem a metade, a verdade e enquanto me elogia eu me sinto mais ainda um pedaço de carne.
Mas se eu for pra esquina e cobrar pra ser vista, tocada e não falar nada, passo a ser a vadia, a jogada na vida, a puta da esquina sem nenhuma qualidade, um pedaço estragado, esmagado, surrado e muito mastigado.. de carne.
Não preciso ser inteligente ou intelectualmente intrigante pra você querer ver mais, tenho que estar com tudo em cima, nada de barriga, calos ou espinhas, mas ser curvilínea é uma nomenclatura complexa demais.
E se ninguém diz nada quando estou toda arrumada, perco a noite intrigada por não ser mais um bom pedaço de carne.
Como é que se livra assim, de palavras que doem a mim, quando jogadas as outras ou as minhas coxas que são grossas demais? Como esqueço que sou um pedaço de carne com gorduras a mais? Como deixo me chamarem assim e depois tomar pra mim que se não dizem é que sou feia demais? Como esquecer que entre tantos tem você, que fala na madrugada ¨mostra mais, você é gata¨ e eu não sei me fortalecer pra deixar de ser essa carne que parece estragada?!

terça-feira, 28 de julho de 2015

Quê é, que quer, que sou.

As vezes queria ser rica e as vezes eu não queria, em outras ser bem pobre e em outras até mendiga.
Tem dia que eu quero ser menos eu e depois quero ser mais alguém, quero ser a branca que faz fotografia, mas também quero ser a negra da favela que nem o que comer tinha.
Num só ano eu já fui tanta coisa, deixei de ser outras e fui mais eu, depois fui mais alguém, passei a ser mais ninguém deixando de ser eu mesma eu fiquei na página virada sem dilema.
Num só mês eu fui freguês, já fui um burguês e pra alguns de vocês eu sei que ainda sou, tenho até amigo que fez aula de francês, que leciona inglês e que come no Paris6. Eu não sei inglês, nem francês, mas mando bem pra caramba no meu Português.
Numa só hora que o relógio conta, eu quero ser o que não sou e quero deixar de ser o que já fui em outras horas da vida, quero voltar as horas pra ser mais negra e o cabelo eu não alisaria.
Mas eu sei que não sou igual a advogada da novela, que meu cabelo não é pra fazer média ou porque a moda diz que não é mais brega, sei que não me sinto representada nas telas da tv, porque meu corpo não tem as curvas que lá você vê.
Já fui invejada e também já invejei, aliás eu invejo e nem nego, porque eu quero ser rica, quero ser diva, quero ser a mais bela menina, quero ser tudo de bom que ainda não fui, quero deixar tudo de ruim que ainda sou, quero ser o bem de alguém, quero ser o norte do sul, quero ir aonde quiser, quero viajar sempre que puder, quero fazer mais arte, quero pagar podendo, quero ajudar quem nem come, quero que mais ninguém passe fome, nem vontade e que possa arcar com sua própria vaidade.
Tem tanto querer dentro do meu ser que as vezes me perco de quem sou, da negra, da mulher, da gordinha, da atriz, da estudante, da humana.

domingo, 19 de julho de 2015

Sou...

Já fui mais mulher, mas hoje também sou um bocado, já fui tantas alegrias incluindo hoje, mas no momento sou tristeza.
Ainda não citei o que sempre fui, o que amanhã serei mais uma vez, até porque como se pronuncia de uma parte que por tantas vezes cai no esquecimento de ser.
Já fui trocada, mas hoje eu sou o trocadilho, sou eu quem atiro.
Hoje eu sou noite sem lua, bem escura e crua, igual ao tempero despreparado.
Hoje sou ereta, com a coluna quase que reta, mas a barriga sem fim pra acabar.
Hoje sou a estrada esburacada, daquelas que quase nos mata de tanto o carro desviar.
Hoje sou hipotermia, sou dor na espinha e os quarenta graus de febre que parece não cessar.
Hoje sou carro sem farol e sem rodas para andar ou sem serventia pra usar.
Mas continuo sendo uma mulher, daquela que tem racho nos pés, por descalça sempre estar.