As vezes queria ser rica e as vezes eu não queria, em outras ser bem pobre e em outras até mendiga.
Tem dia que eu quero ser menos eu e depois quero ser mais alguém, quero ser a branca que faz fotografia, mas também quero ser a negra da favela que nem o que comer tinha.
Num só ano eu já fui tanta coisa, deixei de ser outras e fui mais eu, depois fui mais alguém, passei a ser mais ninguém deixando de ser eu mesma eu fiquei na página virada sem dilema.
Num só mês eu fui freguês, já fui um burguês e pra alguns de vocês eu sei que ainda sou, tenho até amigo que fez aula de francês, que leciona inglês e que come no Paris6. Eu não sei inglês, nem francês, mas mando bem pra caramba no meu Português.
Numa só hora que o relógio conta, eu quero ser o que não sou e quero deixar de ser o que já fui em outras horas da vida, quero voltar as horas pra ser mais negra e o cabelo eu não alisaria.
Mas eu sei que não sou igual a advogada da novela, que meu cabelo não é pra fazer média ou porque a moda diz que não é mais brega, sei que não me sinto representada nas telas da tv, porque meu corpo não tem as curvas que lá você vê.
Já fui invejada e também já invejei, aliás eu invejo e nem nego, porque eu quero ser rica, quero ser diva, quero ser a mais bela menina, quero ser tudo de bom que ainda não fui, quero deixar tudo de ruim que ainda sou, quero ser o bem de alguém, quero ser o norte do sul, quero ir aonde quiser, quero viajar sempre que puder, quero fazer mais arte, quero pagar podendo, quero ajudar quem nem come, quero que mais ninguém passe fome, nem vontade e que possa arcar com sua própria vaidade.
Tem tanto querer dentro do meu ser que as vezes me perco de quem sou, da negra, da mulher, da gordinha, da atriz, da estudante, da humana.
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