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segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Amor (pro)prio em cápsulas

Sempre disseram que havia algo errado com meu corpo, com meu cabelo, comigo. Até que eu cheguei em um ponto onde eu considerava ter conquistado meu amor próprio,  até sentir novamente que alguém ou algo havia arrancado de mim essa conquista. 
Hoje, mais uma vez me vejo perdida nessa beleza que não consigo notar, que faço esforço enorme para ver e parece que na verdade é um caminho inverso. 
O amor próprio é como uma planta... você tem que cuidar, regar, elogiar e perceber que mesmo quando ela não está florida, tem sua beleza e, que em algum momento ela terá novos botões e depois flores novamente.. 
Mas me pergunto quanto tempo duram as plantas, quanto tempo dura o amor próprio, quanto tempo dura essa relação consigo mesma e se há espaço para se amar vendo tanta gente irreal sendo considerada bela. Será que é igual com as plantas? Com as flores? 
Desabrochei tantas flores, tantas vezes, de tantas formas e cores que agora penso que talvez eu seja somente uma planta, com as folhagens num tom de verde que parece sempre igual, sem crescer mais um pouco. 
Escrevi tanto sobre o corpo feminino gordo, também como forma de manter meu autoamor, como se pudesse fortalecê-lo ao entender mais sobre mim mesma. E ainda assim, caio em armadilhas todos os dias. 
Penso, considero, aceito o fato de que nunca serei bela como me imaginei um dia. Penso, considero e aceito que os remédios são a melhor - e talvez única - maneira de chegar naquele corpo/peso que conquistei por várias vezes o amor próprio. Penso, considero e aceito, que meus olhos na verdade, nunca viram a mim com todo esse amor que eu acreditava, porque todas as outras opções mais magras e menos crespas são mais possíveis de se amar. 
E todos os dias ouço tantas falas sobre corpo, beleza, magreza e remédio numa mesma frase que quase cedo, mas não tenho coragem. 
Nego e renego que alguns comprimidos façam com que eu me comprima ao máximo para ser bela, rejeito dietas e dicas que surgem como o ar que respiro e ainda assim, renego a mim mesma. 
Por isso, se ver meu autoamor por aí, pode indicar a ele que volte pra mim, sem nenhum quilo a menos, sem nenhum cacho a menos, sem rejeitar a minha versão atual, sendo apenas verdadeiro.