- Pintando as unhas, é?
- Não. Só estou escolhendo uma cor temporária para o meu bem querer, me querer mais.
- E hoje será rosa? - era bom ver o quanto ela estava estacionada e eu não.
- Se te contenta meu sim, fica desse jeito.
Aqueles olhos lindos já não me pertenciam, mas nunca foram tão meus quanto aquele momento que me focou.
Eu segurei um punhado dos seus cachos, ela virou-se, me olhou, fixou seus próprios lábios, como se segurasse na boca algumas palavras que gostaria de cuspir em mim. Eu sorri, de uma maneira tão fria como nunca imaginei que eu poderia... toda a minha bondade para com ela, havia sumido.
- Tenho algumas cores disponíveis para você hoje.
- Quais são? - ela soltou com suas mãos macias, o punhado que eu segurava.
- Preto, branco, cinza, marrom...
Era a parte suja da minha alma, eu colocava esta para fora de forma negra, sentia meu próprio estômago repudiar minha fala.
Aquelas pernas brancas e cumpridas correram pra longe de mim, junto dela foram as cores negras minhas, foram as minhas palavras injuriosas, foi o amargo, toda essa minha parte, essa minha outra face, foi junto com ela, embora num caminho desconhecido de mim.